Um cidadão pode inscrever-se num partido politico por uma de duas razões: ou porque ideologicamente se identifica com o programa e os princípios desse partido, ou porque procura um qualquer beneficio material e financeiro de curto prazo. A atenuação do peso ideológico verificada nos “partidos tradicionais” nas últimas décadas, cada vez mais “fulanizados”, cada vez mais semelhantes entre si e menos soberanos em relação aos ditames da Europa ou dos mercados, fez com que, progressivamente, a distinção  entre os diversos  partidos de poder se apresente mais difícil; a ideologia perdeu força identitária e os “interesses” (financeiros e internacionais) preenchem esse espaço. De organizações de causas os partidos transformam-se em grandes agências de emprego: no Estado, na administração pública desconcentrada e nas empresas que trabalham para o Estado.

O predomínio da “militância por Interesse” em relação à “militância por causas” seca a base militante e reduz a quase zero a divergência interna, fazendo disparar a inclinação para o conformismo e o seguidismo acrítico, funcionalizando os partidos e tornando cada vez maior o poder das lideranças locais e nacionais sobre as estruturas de base. O prémio e a recompensa deixam de ser atribuídos de acordo com os méritos de cada um, para passarem a ser graças concedidas em função da capacidade de obedecer, da fidelidade e da subordinação absoluta em relação às decisões dos lideres. Quem exprime insubordinação ou divergência (real ou apenas aspirativa) é rapidamente posto de lado e perde qualquer capacidade de influência politica.

A excessiva fulanização (ou culto de personalidade, exagerando a importância  do líder no partido), a perda de soberania para o estrangeiro, a corrupção em troca de favores ou empregos, a “deslocação para o centro” das ideologias partidárias (em busca dos votos de um eleitorado cada vez menos politizado e ideológico) conduziram os partidos a uma severa atenuação da sua carga ideológica. Nestes partidos modernos, com vocação e acção de poder, a participação da sociedade civil, dos cidadãos, dos eleitores e até dos militantes de base é cada vez menos necessária e as campanhas ou até a elaboração dos programas eleitorais são entregues (em regime de “outsourcing”) a especialistas ou empresas comerciais. Só  consegue manter-se livre da teia de dependências que leva ao conformismo e aos prémios (em cargos e influência), daqui decorrentes, quem não faz da politica profissão. Assim se compreende porque é que nestes partidos em crise são hoje cada vez mais raros os militantes ativos com ocupações profissionais independentes da rede partidária ou do Estado. A militância funcionaliza-se e a política partidária torna-se essencial à sobrevivência material dos políticos partidários e das suas famílias.

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CITAÇÂO da SEMANA

“A essência da democracia participativa é a participação significativa na tomada de decisões e na formulação de políticas.”
Carole Pateman
“Participação e Teoria Democrática” (1970)