1. Resultados da Amostra e Projeção
Foram analisados 842 perfis seguidores de várias contas institucionais, incluindo municípios e figuras públicas portuguesas. Os perfis foram classificados da seguinte forma:

Tipo de Perfil
Quantidade
Percentagem
Nominais (nome real, foto humana, bio mínima)
572 perfis ou 67,93%
Anónimos, simbólicos, fictícios ou paródicos
270 perfis ou 32,07%

Total da amostra (o X/Twitter apenas mostra uma pequena parte do número total de seguidores: entre os 20 e os 40)
842 ou 100%
Seguidores totais da conta-base
125.088.404 (125 milhões)
Com base nesta amostra, foram projetados os seguintes números para o universo total:
Perfis nominais estimados: 85.000.047 (85 milhões)
Perfis anónimos estimados: 40.088.357 (40 milhões)

Esses valores revelam que mais de 40 milhões de seguidores são potencialmente perfis anónimos, simbólicos ou com características não identificáveis: um fenómeno que levanta sérias preocupações sobre a representatividade, o engajamento e a transparência nas plataformas digitais.

2. Segunda Amostra – Validação Cruzada
Outra análise complementar, com 605 perfis seguidores de contas institucionais portuguesas (incluindo várias câmaras municipais), confirma a tendência:
Perfis anónimos ou simbólicos: 199 (32,9%)
Perfis nominais (reconhecíveis): 406 (67,1%)
Este alinhamento estatístico reforça a fiabilidade da primeira amostra e sugere que a distribuição é estável entre diferentes contas institucionais.

3. Perfis Anónimos vs. Bots / Automatismos
É importante distinguir:
Perfis anónimos: Pessoas reais que optam por não expor a sua identidade — por razões de privacidade, ideologia, humor ou proteção.
Perfis automatizados (bots): Contas geridas por scripts ou por operadores não-humanos, usadas para manipular, promover ou distorcer conversas.
Das 270 contas anónimas identificadas na primeira amostra:
Cerca de 48 perfis (estimativa conservadora: ~17,8%) apresentam padrões típicos de bots ou contas automatizadas (ex.: ausência total de tweets próprios, nomes aleatórios, seguidores irrelevantes, bios em branco ou repetitivas).

4. Interpretação e Motivações Prováveis
Privacidade e desconfiança digital: O receio de exposição pessoal leva muitos utilizadores a evitarem imagens e nomes reais.
Sátira e humor político: Contas paródicas e simbólicas têm particular expressão em momentos de tensão social ou debate público.
Militância ideológica: Grupos de extrema-esquerda, extrema-direita ou libertários frequentemente adotam perfis com simbologia em vez de identidade pessoal.
Automação e manipulação algorítmica: Bots e contas comerciais seguem páginas para aparentar volume ou influência.

5. Problemas Criados por Esta Realidade

a) Distorção de Métricas
Instituições podem interpretar erroneamente o número de seguidores como reflexo de apoio real. A presença de contas anónimas e bots reduz a fidelidade das métricas.

b) Baixo valor do engajamento
Perfis não-identificáveis raramente participam em fóruns, eventos ou consultas públicas reais. Isso compromete a eficácia da comunicação pública.

c) Espaço fértil para desinformação
Perfis falsos ou anónimos são terreno fértil para teorias da conspiração, campanhas de manipulação e sabotagem discursiva.

d) Dificuldade em construir comunidades locais
Especialmente em contas municipais, o desconhecimento de quem realmente está a seguir limita ações de escuta ativa e participação cidadã.

6. Propostas de Solução

Auditoria das Redes de Seguidores
Utilizar ferramentas como HypeAuditor, FollowerAudit ou Social Blade para:
Identificar seguidores inativos ou falsos;
Mapear padrões geográficos e de comportamento;
Avaliar risco reputacional.

Espaços participativos autenticados
Fóruns online com autenticação por NIF ou cartão do cidadão;
Grupos fechados com verificação mínima (email, telemóvel).

Conteúdos mais segmentados e locais
Incentivar publicações com hashtags locais e temas regionais;
Reduzir o apelo para perfis externos ou irrelevantes.

Campanhas de literacia digital
Promover o valor da identidade digital autêntica;
Ensinar como identificar bots e denunciar manipulação.


7. Conclusão e Reflexão Final

A existência de perfis anónimos não é, por si só, um problema, e pode até ser saudável numa democracia, protegendo vozes vulneráveis. No entanto, quando esses perfis dominam o espectro de seguidores de entidades públicas, prejudicam a transparência, reduzem a qualidade do engajamento cívico e fragilizam a democracia digital.

O equilíbrio necessário é entre:
Proteger a liberdade de expressão,
Estimular a participação real e
Promover ambientes digitais mais autênticos e representativos.


Dados em
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1Xy-gPCgUZx1NklqolOt4ea992epE4tZJ0jtmKYEdKgE/edit?gid=0#gid=0
Dados recolhidos a 13 de Junho de 2025

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“A essência da democracia participativa é a participação significativa na tomada de decisões e na formulação de políticas.”
Carole Pateman
“Participação e Teoria Democrática” (1970)