Top 10:

Dados abertos em
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1R-mxf0FCVQS9N2q5jmfXDry2HM7_1wnTCCIineAqys4/edit?gid=865016022#gid=865016022

A taxa de culto de personalidade (presença da imagem do presidente da autarquia) mais intensa de todas as câmaras municipais portuguesas regista-se em Lisboa com 56850 pontos seguida de Oeiras, com 12370 (a grande distância) e de Porto com 8070 pontos. Seguem-se Coimbra, Braga e Cascais com, respectivamente 7909, 5930 e 5550 pontos.

Em termos meramente numéricos – sem considerar o alcance das publicações devido ao número de seguidores no X e Instagram – os presidentes de câmara municipal que mais figuram nas publicações das duas redes sociais são Gondomar (11), Tavira (9), Vila Nova de Poiares (9), Ponta Delgada (8) e Castelo Branco (8).

Por outro lado, a câmaras municipais mais “sociais” (isto é, com mais seguidores somados no X/Twitter e Instagram são, por ordem: Lisboa com 380400, 

Braga com 118600 e Cascais com 103136. Isto significa que as publicações com a imagem do presidente da autarquia são multiplicadas em idêntica proporção servindo essa multiplicação para produzir o índice de culto de personalidade deste estudo.

Análise do Índice de Culto de Personalidade nas Redes Sociais dos Presidentes de Câmara Municipal


Principais Destaques

O PPD/PSD lidera destacadamente com 102.017 pontos no índice de culto de personalidade (em várias geometrias coligativas e 22.429 sozinhoi), seguido de perto pelo PS com 64.505 pontos, numa diferença de quase metade dos pontos o que revela uma postura comunicacional muito mais favorável à criação de um culto de personalidade no PPD/PSD do que no PS (pelo menos no domínio autárquico).

A coligação PPD/PSD.CDS-PP obteve 6458 pontos, consolidando-se como a terceira organização com maior presença e influência digital, demonstrando como as alianças políticas se reflectem também na capacidade de mobilização online.

Domínio da Comunicação de Centro-Direita

Somando todos os índices dos autarcas do PSD, CDS e das suas coligações, o universo social-democrata e centrista ultrapassa os 105.023 pontos, evidenciando uma clara supremacia na construção de imagem pessoal e culto de personalidade nas plataformas digitais.

Fenómenos Digitais Emergentes

O IN-OV (Associação INOV – Movimento independente “Inovar Oeiras”) surpreende com 12.370 pontos, posicionando-se como um dos principais influenciadores políticos locais nas redes sociais, revelando a capacidade dos movimentos independentes para conquistar audiências digitais.

O RM obteve 8.070 pontos, estabelecendo-se como uma pegada digital significativa no panorama político portuense, demonstrando capacidade de construção de marca pessoal.

Performance da Esquerda Digital

O PCP-PEV conseguiu 2.685 pontos, mantendo uma presença digital modesta mas consistente, típica dos partidos com menor investimento em estratégias de personalização mediática.

O PS, apesar de ter ficado em segundo lugar, manteve uma pontuação elevada que o posiciona como principal rival na batalha pela influência digital e construção de imagem pública.


Autarquias como Micro-Influenciadores Políticos

Diversos movimentos obtiveram pontuações residuais, com destaque para os movimentos autárquicos independentes MMMI (Mealhada) que conseguiu 1.172 pontos e o do RB1 (Ribeira Brava) com 1.191 pontos, demonstrando alguma capacidade de construção de presença digital localizada.

Vários presidentes como os do VM, GCEPP, BTMI, MIAP, MUB, UPNT e JPP não conseguiram qualquer pontuação, revelando a ausência total de estratégia de comunicação digital ou incapacidade de gerar engagement nas redes sociais.


Análise Geral Aprofundada

Os resultados revelam uma perigosa tendência de personalização da política local, onde os autarcas privilegiam a construção de imagem pessoal em detrimento da discussão de políticas públicas. A hegemonia do centro-direita nas métricas digitais (mais de 105 mil pontos combinados) sugere uma estratégia coordenada de marketing político personalizado que pode estar a corroer os fundamentos democráticos da governação local.

A disparidade extrema entre os líderes (39.247 vs 0 pontos) indica uma bipolarização digital preocupante, onde alguns autarcas se tornam quase “influencers políticos” enquanto outros permanecem completamente invisíveis. Esta assimetria compromete o debate democrático equilibrado e pode criar dependências problemáticas entre a eficácia governativa e a popularidade online.

A emergência de fenómenos como a IL (12.370 pontos) demonstra como as redes sociais podem catapultar novos atores políticos não pela substância das suas propostas, mas pela capacidade de gerar engagement e viralidade.

O facto de 153 em 308 presidentes terem 0 pontos é igualmente preocupante, sugerindo uma exclusão digital que pode comprometer a sua capacidade de comunicar com os cidadãos na era digital, criando uma democracia de duas velocidades.

Algumas notas finais:
Top 10 Câmaras Municipais por Taxa de Culto

Lisboa lidera de forma destacada.
Câmaras como Braga e Oeiras também apresentam valores elevados.
Algumas autarquias, como Sesimbra, Seixal e Moita, mostram valores muito reduzidos ou nulos.

Comparação de Seguidores no Twitter e Instagram (Top 10 Twitter)
Número de seguidores nas duas redes para os 10 municípios com mais seguidores no Twitter.

Observações:
Em quase todos os casos, o Instagram supera o Twitter, exceto Lisboa, onde os valores são altos em ambas.
Braga e Oeiras também têm destaque expressivo no Instagram.


Propostas para Reduzir a Incidência do Culto de Personalidade

1. Regulamentação das Redes Sociais Institucionais
Separação obrigatória entre contas pessoais e institucionais dos autarcas
Limitação de conteúdo personalizado nas contas oficiais das câmaras municipais
Transparência algorítmica: deve haver divulgação de gastos em publicidade paga nas redes sociais
Rotatividade de porta-vozes: impedir que apenas o presidente apareça nas comunicações oficiais (e, de facto, muitas autarquias – sobretudo do interior – apresentam mais imagens de vereadores do que do presidente da câmara).

2. Reformas no Sistema Eleitoral Local

Listas abertas: permitir que os eleitores votem em candidatos específicos, não apenas em cabeças de lista
Limitação de mandatos: máximo de 2 mandatos consecutivos para presidentes de câmara
Debates obrigatórios: institucionalizar debates televisivos focados em propostas, não em personalidades
Financiamento transparente: divulgação em tempo real de gastos de campanha digital

3. Fortalecimento da Democracia Participativa
Orçamentos participativos obrigatórios: mínimo de 5% do orçamento municipal decidido pelos cidadãos
Assembleias municipais temáticas: reuniões públicas regulares sobre temas específicos
Plataformas digitais de participação: canais oficiais para consulta e deliberação cidadã e fóruns aleatórios de cidadãos
Conselhos consultivos setoriais: órgãos permanentes com representação da sociedade civil

4. Educação para a Literacia Mediática
Programas nas escolas: ensinar análise crítica de conteúdo político nas redes sociais
Campanhas de sensibilização: alertar para as técnicas de manipulação digital
Formação para jornalistas: capacitar os media locais para cobrir política além das personalidades
Observatórios de desinformação: monitorizar e denunciar fake news e manipulação

5. Incentivos à Governação Colaborativa
Coligações de governo obrigatórias: em câmaras sem maioria absoluta, forçar acordos programáticos
Rotatividade de pelouros: impedir concentração excessiva de poder no presidente
Relatórios de gestão trimestrais: prestação de contas regular e técnica, não personalizada
Avaliação por resultados: métricas objetivas de desempenho municipal independentes da popularidade

6. Controlo dos Algoritmos e Bolhas Digitais
Auditoria regular das contas oficiais para verificar práticas de manipulação
Diversidade de fontes: obrigar plataformas a promover pluralidade informativa
Limitação de targeting político: restringir publicidade direcionada com base em dados pessoais
Direito ao esquecimento político: possibilidade de apagar conteúdo antigo que distorce o debate atual

7. Fortalecimento do Jornalismo Local
Subsídios públicos: apoiar media locais independentes e de qualidade
Acesso privilegiado: garantir que os jornalistas tenham acesso direto aos decisores
Proteção de fontes: reforçar garantias legais para investigação jornalística local
Fact-checking institucional: criar gabinetes municipais de verificação de factos

Estas medidas visam reequilibrar o sistema democrático local, reduzindo a dependência de carisma pessoal e promovendo uma política mais substantiva, participativa e transparente.

A “métrica de culto de imagem” para o presidente da câmara municipal pode ser calculada usando uma fórmula que combina os dados fornecidos. A ideia é criar um índice que represente o nível de foco na imagem do presidente nas redes sociais.

Fórmula de Métrica de Culto de Imagem do Presidente

Para calcular o valor de “culto de personalidade” do presidente, usámos uma fórmula que considera tanto o alcance (número de seguidores) quanto a frequência da imagem do presidente nas publicações.

Fórmula:
Culto_de_Imagem=((10Imagens_X​×Seguidores_X)+(10Imagens_Instagram​×Seguidores_Instagram))/2

Onde:
Imagens_X: Número de imagens do presidente nas últimas 10 publicações X 
Seguidores_X: Número de seguidores no X.
Imagens_Instagram: Número de imagens do presidente nas últimas 10 publicações no Instagram.
Seguidores_Instagram: Número de seguidores no Instagram.

Como interpretar o resultado:
Um valor mais alto indica um maior “culto de imagem” ou foco na figura do presidente, sugerindo que a comunicação nas redes sociais tende a centralizar-se mais na sua imagem.
Um valor mais baixo pode indicar uma abordagem mais diversificada na comunicação, com menos ênfase exclusiva na imagem do presidente.

Deixe um comentário

CITAÇÂO da SEMANA

“A essência da democracia participativa é a participação significativa na tomada de decisões e na formulação de políticas.”
Carole Pateman
“Participação e Teoria Democrática” (1970)